O principal objectivo deste livro é determinar as bases do processo de secularização e laicização da sociedade portuguesa e tentar entender se o processo português é generalizável aos outros países da Europa Ocidental. A análise parte do processo de massificação da literatura de espiritualidade, que teve início em França no início do século XVII e conheceu prolongamentos em Portugal na segunda metade do século. Este processo levou a uma “secularização da devoção” e ao desenvolvimento de uma epistemologia, primeiro, e a uma psicologia, depois. Pretende-se demonstrar a forma como o iluminismo português, encarnado pelo Marquês de Pombal, veiculava uma visão do homem que se fundava na profunda introspecção resultante desse processo. Procura-se, igualmente, demonstrar a emergência de um partido agostiniano e anti-jesuítico em Portugal na segunda metade do século XVII, e que Pombal utilizou como base social crítica para o seu processo de reformas sociais. Trata-se de uma forma de abordar a questão da secularização que está nos antípodas da tese oficial de uma retirada progressiva de Deus do seio da sociedade humana. Paradoxalmente, a gradual emancipação da razão humana pode ter sido potenciada pela acção daqueles que mais a desprezavam.

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